A escolha desse livro se deu pela indicação de um amigo e irmão de fé, Wallace Fernandes. A proposta inicial seria uma leitura em conjunto de um outro livro que ficará para outra oportunidade. A sugestão desses livros é resultante de um clube de leitura do qual ele está fazendo parte e, como eu já tinha esse em mãos, ao contrário da primeira sugestão de leitura, combinamos ler nesse mês de abril “A abolição do homem”.
Dos dez livros do C. S. Lewis que tenho impresso atualmente (em abril de 2023), este, embora pequeno, provavelmente seria minha última leitura, porque um conhecido havia criticado desfavoravelmente tal leitura há um ou dois anos. De fato, após ler seis livros desse autor, percebo que há trechos de difícil compreensão em uma primeira leitura. Porém, vale a pena destacar o que me chamou atenção neste livro, porque pode lhe ser útil em alguma medida.
Capítulo 1 | Homens sem peito
Sou impacto pela constante humildade e respeito do Lewis pelo outro: “Não quero expor ao ridículo […] já que eles deram o melhor de si, dentro do que estava ao alcance do conhecimento deles, mas não posso me calar sobre o que eu penso ser a tendência real do trabalho deles”. (p. 11) Ao que me parece este livro é uma critica a um outro didático que foi produzidor por dois autores nos dias de Lewis, mas olha como ele inicia a sua crítica a esse trabalho, uma maneira polida digna de ser a dota por qualquer um que se proponha a avaliar o trabalho de outros.
“Para cada aluno meu que precisa ser protegido contra um leve excesso de sensibilidade, há três que precisam ser despertos do sono da fria vulgaridade. A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos. A defesa certa contra sentimentalismos falaciosos é incutir sentimentos corretos. Quando ajudamos a sensibilidade dos nossos jovens a morrer de inanição, o que fazemos é só torná-los presas mais fáceis do propagandista. Pois a natureza faminta será vingada e um coração duro não é proteção infalível contra a insensatez“. (p. 20)
“Algo que não podemos negligenciar é a doutrina do valor objetivo, a convicção de que certas atitudes são realmente verdadeiras, e outras realmente falsas em relação ao que é o universo e o que somos“. (p. 24)
Ao ler esse primeiro capítulo fica evidente que precisamos fazer distinção entre o mundo dos fatos e o mundo dos sentimentos se realmente queremos ser um ser humano livre.
Criamos os homens sem peito e esperamos deles a virtude e a iniciativa. Zombamos da honra e ficamos chocados ao encontrar traidores em nosso meio. Nós os castramos e exigimos dos castrados que sejam frutíferos. (p. 30)
Embora minhas crenças pessoais estejam 98% em direção opostas as de Confúcio, certo estava ele quando afirma que “O homem nobre dedica seus esforços às Raízes“. (p. 31)
Capítulo 2 | O caminho
“A morte de alguns homens é útil para outros. Isso é bem verdade. Mas com base em que esses homens estão sendo solicitados para morrer em benefício de outros? Todo e qualquer apelo ao orgulho, honra, vergonha ou amor é excluído por hipótese”. (p. 35)
Para quem desejar entender um pouco sobre a origem de toda essa força ideológica de orientação sexual Lewis sinaliza: “a situação moderna permite e demanda uma nova moralidade sexual; os antigos tabus serviram ao propósito real de ajudar a preservação da espécie, mas os contraceptivos modificaram isso e agora podemos abandonar muitos desses tabus”. (p. 38)
“Há quem defenda o instinto de preservação da espécie sempre deva ser obedecido, às custas de nossos outros instintos. […] podemos, […] achar motivos para preferir um instinto em detrimento de outros”. (p. 40)
“Quando passamos do amor de mãe para o planejamento racional do futuro, estamos passando do domínio do instinto para quele das escolhas e reflexão“. (p. 41-42)
Uma segunda constatação que fica evidente ao ler este segundo capítulo é que precisamos fazer distinção entre valores “reais” ou “racionais” com valores sentimentalistas. (p. 43)
Eis duas difíceis opções que o escritor coloca diante do ser humano: “morrer pela comunidade ou trabalhar pela posteridade”. (p. 44)
“A rebelião de novas ideologias […] é a rebelião dos ramos contra a árvore; se os rebeldes tiverem sucesso, acabarão descobrindo que terão acarretado a destruição de si mesmos. A mente humana não tem mais poder de inventar um novo valor do que de imaginar uma nova cor primária ou até de criar um novo sol e um novo céu, no qual ele possa se mover”. (p. 46)
“Será que isso significa, então que jamais se possa progredir em nossas percepções de valor? Que estamos amarrados para sempre a um código imutável? E será que, de qualquer forma, será possível falar em obedecer ao que eu chamo de Tao? Se ajuntarmos as moralidades tradicionais do Oriente e do Ocidente, a cristã, a pagã e a judaica, da forma como eu fiz, será que não vamos encontrar contradições e alguns absurdos? Reconheço tudo isso. Sempre será necessária alguma crítica, algumas remoção de contradições, até mesmo algum desenvolvimento real, mas não há dois tipos muito diferentes de crítica”. (p. 46-47)
Para pensar com mais calma: “Há uma diferença entre o avanço moral legítimo e a mera inovação”. (p. 47)
“Pode até ser útil ter a mente aberta em questões não essenciais, mas ter a mente aberta em relação aos fundamentos derradeiros, seja da Razão Teórica ou da Prática, é pura idiotice[…] se é para cultivarmos valores, quaisquer que sejam, temos que aceitar as obviedades mais fundamentais da Razão Prática como tendo validade absoluta; que qualquer tentativa, movida pelo ceticismo, de reintroduzir o valor em nível mais baixo, sobre alguma base supostamente mais ‘realista’, é condenável”. (p. 49, 50)
Capítulo 3 | A abolição do homem
Sem querer ser sensacionalista, me surpreendeu ao ler nesse terceiro capítulo Lewis falar na necessidade da existência de um “Estado mundial”, “nação mundial”. (p. 57) Ao longo de toda história o inimigo da verdade sempre busca desacreditá-la por meio da distorção da mesma ou da ridicularização, mas fato é que dentro em breve veremos o mundo se unir em torno de uma mesma compreensão e perseguirão quem quer que se oponha a mesma. A saber um dia semanal de guarda que não o dia estabelecido pelo Criador a saber o Sábado do Sétimo Dia.
Para pensar com mais calma: “Cada geração exerce poder sobre os seus sucessores”. (p. 57)
Para pensar com mais calma: “A natureza Humana será a última parte da Natureza a se render ao Homem”. Na realidade essa redenção só irá ocorrer se este homem primeiro se render a uma Natureza Superior, a saber a Espiritual, que passa a ter domínio quando esse se rende a Cristo. (p. 59)
Eis uma grande questão que vem a mente quando colocamos o conteúdo deste livro ao lado do estado atual da sociedade: “O que a palavra Humanidade deve passar a significar daqui para frente”? (p. 62-63)
“A conquista final do Homem revelou-se a abolição do Homem“. (p. 64) Eu tenho razões para crer que para tal conquista só por meio do Evangelho Eterno, até mesmo pq, na página seguinte ele diz: “Duvido que a história nos dê um exemplo de homem que, tendo dado o passo para fora da moralidade tradicional e tendo obtido poder, tenha usado esse poder de forma benéfica“. (p. 65)
Uma terceira constatação que fica evidente ao ler este último capítulo é que uma consciência consistente não pode ser gerada quando se é exposto quase que exclusivamente a um conteúdo artificial como parece ser o predominante das chamadas redes sociais, que espero exprimirem uma realidade do entretenimento e irreal, e não que tenham se tornado um espelho da realidade social… (p. 65)
Uma quarta constatação resultante da leitura desse livro, é a presença do dilema entre o mundo da quantidade em contraste com o mundo da qualidade. (p. 67)
Como se diz no dia a dia: “sorrimos, mas a vontade de chorar é maior” quando leio o autor afirmar que: “[…] o mundo real é diferente do que esperávamos“. (p. 68) Isso posto, sou levado a pensar que a sociedade estaria um pouco menos adoecida se ela conseguisse lidar um pouco melhor com essa realidade.
Escrito entre os séculos XIX e XX, me surpreende após ter conhecimento de expressão como: Pós-Guerra; Pós-revolução industrial, cultural, sexual; Pós-pandemia; ler Lewis escrever sobre a triste realidade do mundo pós-humanidade “que praticamente todos os homens em todas as nações, de forma consciente ou não, estão atualmente trabalhando para produzir”. (p. 72) O que ele escreveria se vivesse no século XXI? (Eis um tema, questão sugestivo para uma próxima reflexão)
Para pensar com mais calma: Certo escritor “condena todos aqueles que valorizam o conhecimento como um fim em si mesmo; isso, para ele, é usar como prostituta, para o prazer, a mulher que deveria ser uma esposa para ter filhos”. (p. 74)
“Não há dúvida de que aqueles que realmente fundaram a ciência moderna normalmente são aqueles cujo amor pela verdade excedeu o s amor pelo poder; em todo movimento misto a eficácia vem dos bons elementos, não de maus. Mas a presença dos maus elementos não é irrelevante para a direção que a eficácia toma. Pode ser que estejamos indo longe demais ao dizer que o movimento científico moderno esteve maculado desde o seu nascimento, mas eu penso que seria verdade dizer que ele nasceu numa vizinhança nada saudável e em uma hora nefasta. Suas conquistas podem ter vindo rápida demais e sido compradas a um preço muito alto; elas poderão demandar reconsideração e algo parecido com arrependimento. [isso posto] É bom que a janela seja transparente, porque a estrada ou o jardim que está lá fora é opaco“. (p. 74-75, 77)
Para encerra meus destaques, compartilho com você esta penúltima linha deste livro na expectativa que eu e você possamos equilibrar o que revelamos e o que ocultamos a nosso respeito, assim como o que vemos e o que devemos deixar oculto sobre o outro que observamos.
Um mundo totalmente transparente é um mundo invisível. (p. 77)
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No mais, sigamos vivendo tão somente para honra e glória de Deus,
Que o amor por Cristo seja nossa motivação!