O princípio é mais importante que a norma: Uma leitura sobre joias e vaidade
O princípio é mais importante que a norma: Uma leitura sobre joias e vaidade

O princípio é mais importante que a norma: Uma leitura sobre joias e vaidade

O presente estudo/fichamento é resultante de um esforço para oferecer um esclarecimento mais detalhado após ter sido questionado por algumas pessoas ao final de uma pregação em que pontuei o lugar do comportamento no plano de salvação. Além desses irmãos em minha experiência pastoral encontrei dois candidatos ao batismo com menos de 10 anos de idade que tiveram uma resistência perceptível ao não uso das mesmas, minha última e não menos importante motivação é que sou pai de uma menina e que embora atualmente esteja apenas com 4 anos, ela tem se mostrado adepta ao uso desse tipo adorno não recomendável pela Bíblia. Espero que eu tenha sucesso nesse esforço, e esse rascunho seja tão útil para você, para minha filha (quando chegar a hora de estudar mais detidamente com ela o tema 🫣😵‍💫😶‍🌫️) como foi para mim o preparar.

“Frequentemente se diz que não devemos gastar muito tempo com o assunto das jóias. De muitas maneiras isso é verdade. Há outras assuntos muito mais importantes que merecem nossa atenção. Entretanto, quando tratamos desse tema, estamos explorando a natureza da vida cristã, a função das normas e dos princípios bíblicos e sua relação com o justificação pela fé em Cristo. Sim, o uso de jóias é um pormenor, talvez um detalhe, mas abre um campo mais vasto de estudos porque nos coloca não só diante de nosso Salvador, mas também de um Senhor que reivindica em sua plenitude cada aspecto de nossa vida”. (Rodríguez, p. 11)

Penso que o posicionamento a seguir é o que possa ter deixado alguns irmãos em dúvida acerca do que eles haviam entendido sobre o não uso de joias e qual a real compreensão da IASD: “[…] a aceitação das normas adventistas sobre o uso de joias não presta nenhuma contribuição particular à nossa salvação e não deve ocupar o centro da nossa vida. O cristianismo está centralizado na pessoa e obra de Cristo em favor da família humana, e não se deve permitir que cosia alguma ocupe essa cobiçada e privilegiada posição. A morte sacrifical de Cristo é o único e exclusivo meio de acesso a Deus e somente por Ele somos aceitos por nosso Pai celeste. De acordo com as Escrituras, isso é totalmente um do da divina graça, não desempenhando as realizações humanas nenhuma função meritória. Toda doutrina ou norma da igreja deve contribuir para o desdobramento do significado da cruz, apontando para sua implicações na vida cristã”. (idem, p. 12)

É um fato incontestável que os efeitos milenares do pecado sobre a humanidade acabe dificultando a compreensão entre certo e errado até do mais santo dos seres humanos, e por isso damos glórias a Deus por preservar a Bíblia entre nós até o presente momento. “Os adventistas estão interessados na proclamação do evangelho e no chamamento de seres humanos a uma humilde submissão à vontade de Deus segundo é revelado na Bíblia. Consequentemente, eles não têm apenas sublinhado a importância da obediência à Lei de Deus, mas também o valor de uma série de normas bíblicas específicas que tratam de nossa espiritualidade, saúde e temperança, vida social, mordomia e a simplicidade da vida cristã. A soberania de Cristo abrange todas as dimensões do ser humano e, ao fazê-lo, transformar e enriquece a nossa vida”. (idem, p. 14)

Consideremos um pouco sobre tendências recentes no tocante à norma adventista sobre o uso de jóias

“O uso de ornamentos de jóias é um esforço para atrair a atenção, em desacordo com o esquecimento de si mesmo que o cristão deve manifestar. […] Trajar-se com simplicidade, e abster-se de ostentação de jóias e ornamentos de toda espécie, está em harmonia com nossa fé”. (idem, p. 15)

Tenho razão para crer que os cristãos que tem dificuldade com a compreensão de tal norma seja resultante de uma falta ou má compreensão a respeito do princípio no qual a norma se sustenta.

O princípio por trás da norma é identificado como a negação do próprio eu em humilde submissão à vontade de Deus.(idem, p. 16)

Agora um detalhe histórico sobre tudo aos líderes cristãos: “nunca foi fácil fazer valer plenamente a norma quanto ao uso de jóias. […] Há evidências históricas indicando que a posição da igreja sobre jóias também era controvertida entre alguns adventistas na última parte dos anos 1800”. (idem, p. 16, 24)

E é muito importante salientarmos que: “embora a qualidade do cristianismo de uma pessoa não possa ser aferida somente por critérios externos, sabemos que sua aparência exterior revelará conformidade com o mundo ou com a Palavra”. ( idem, p. 17)

Penso que como a sociedade está em certa medida sempre mudando, é importante estarmos dispostos a reexaminar acerca do que cremos e de como vivemos, para estarmos ainda mais seguros dos princípios que nos norteia e não fazermos apenas do que é cultural um princípio bíblico.

Quando falamos em norma sugiro aqui uma pequena adaptação a partir da classificação feita por David Newman em que ele classifica a norma em três níveis (idem, p. 21):

  1. As absolutas, que nunca mudam e são sempre válidas (Ex. Os 10 Mandamentos).
  2. As temporais, o que equivale a dizer que são exigidas do povo de Deus em toda a parte, mas têm existência temporal limitada (Ex.: A circuncisão terminou na cruz; o batismo por imersão termina com a segunda vinda).
  3. As normas culturais, nesses casos a preocupação se limita mais a esferas locais (Ex. O uso de véu; e o uso de terno para pregar)

Antes de avançarmos é importante considerarmos que o cristianismo em sua essência se distingue tanto do legalismo quando da permissividade, por isso devemos como pais, líderes, irmão de fé evitar ambos os extremos principalmente no que diz respeito a temas em que a Bíblia não é categórica em um posicionamento.

Agora consideramos sobre a grande questão: O que a Bíblia realmente ensina acerca do uso de joias?

Jóias no Antigo Testamento

Será que uma jovem se esquece das suas joias, ou uma noiva, de seus enfeites nupciais? Contudo, o meu povo esqueceu-se de mim por dias sem fim. (Jeremias 2.32 – NVI)

“[…] o uso de jóias era muito comum por todo o antigo Oriente Próximo e desempenhava um papel significativo naquelas sociedades. […] a jóia era um veículo de expressão de práticas e convicções culturais, sociais, religiosas e mágicas. Em certo sentido, era uma expressão concreta dos interesses, valores preocupações e temores do indivíduo, bem como de sua posição na sociedade”. (idem. p. 29)

“Antes da invenção da cunhagem de moedas, as jóias foram usadas como meio de troca. Parece ter sido uma prática comum através de todo o antigo Oriente Próximo fazer peças de joalheria com um peso padrão, as quais poderiam ser usadas em transações comerciais, em troca de outros bens ou como pagamento por um trabalho bem feito. Essa foi a função das jóias dadas pelo servo de Abraão a Rebeca junto ao poço. […] (Gên 24.22). Dois elementos da narrativa sugerem que essas jóias lhe foram dadas por conta dos serviços prestados. Primeiro, ele lhe entregou as jóias somente depois que ela executou um valiosos serviço para ele e seus animais. Ela não só providenciou água para o servo de Abraão e seus homens (v. 22), mas também para seus dez camelos! Inquestionavelmente, foi uma tarefa e tanto, exigindo dela muito esforço e energia”. (idem, p. 31)

“O fato de a jóia ser considerada ‘dinheiro’ não impedia a pessoa de usá-la; Rebeca colocou-as em seu corpo. Pode bem ter havido casos em que as pessoas saíam para fazer transações comerciais literalmente ostentando o seu ‘dinheiro’. Teríamos, então, a fusão de duas diferentes funções da joía, a saber, adorno e moeda”. (idem, p. 31-32)

“Embora o Antigo Testamento não rejeite completamente o uso de jóias, é interessantes observar que há um só incidente em que as jóias foram oficialmente prescritas para alguém, a saber, o sumo sacerdote”. (idem, p. 40) E o seu uso não era primordialmente ornamental e sim funcional, assim como tudo relacionado ao Santuário.

Em Gên 35.4; Êxo 33.4-6 são passagens em que vemos o pedido de remoção do uso de joias, em Jz 8.24, parece sugerir que durante o período dos juízes não foram usados ornamentos pelos israelitas.

“As descobertas arqueológicas sugerem que as jóias não eram habituais entre os israelitas, e aquilo que se encontrou é geralmente de qualidade inferior”. (idem, p. 43) Já no tempo de Oséias (2.13,15) e Isaías (3.16-23) “as jóias religiosas e ornamentais eram muito populares entre os Israelitas”. (idem, p. 43) Contudo, o profeta Isaías as condena como uma expressão de orgulho.

“A ordem de Deus para que os israelitas retirassem suas jóias permanentemente no Sinai é intrigante [Êxo 33.4-6]. […] Aqui temos uma indicação das intenções de Deus para com Seu povo. Ordenou-lhes que as removessem de sua pessoa, mas não que se livrassem delas. As implicações são de que as jóias conservaram sua função como moeda e riqueza pessoal, devendo ser colocadas a serviço do Senhor”. (idem, p. 45)

“As jóias parecem ser geralmente percebidas como a representação da autoconfiança e do orgulho humano, ambos intimamente relacionados com a idolatria. A mudança no coração do indivíduo, da arrogância à submissão a Jeová, era indicada mediante a remoção das jóias, cuja ausência se tornou um lembrete da graça perdoadora de Deus”. (idem, p. 46)

Jóias no Novo Testamento

Dois textos chaves para o estudo do tema no NT tem sido: I Pe 3.1-6; I Tm 2.8-10. Mas assim como ocorre no AT no NT as jóias além do seu uso como adorno (enfeite), ela também tem seu uso como:

  1. Moeda (Mt 10.9; Mc 6.8; Lc 9.3; At 3.6; 20.33);
  2. Evidência de riqueza (II Crô 32.27; Apo 18.16);
  3. Status social (Zac 9.16; Tg 2.2; Apo 4.4 e14.14);
  4. Filiação/autoridade (Et 8.15; Lc 15.22);
  5. Oferta (Nm 31.50; Mt 2.11)

Sei que para alguns o que já foi visto até aqui pode ser suficiente, mas para outros que encontram no tema a sua maior dificuldade de permitir que Cristo reine soberanamente em sua vida pode precisar de algo mais, e não tenho a pretensão de que encontre aqui mesmo esse algo a mais que necessite, contudo não pense que seus valores estéticos assim como o da sociedade que nos cerca são superiores ao valores estéticos de Deus, e sei que como o verdadeiro cristão que você é, você seguira buscando orientação de Deus para viver em conformidade da vontade dele para nós. Duas grande perguntas que podemos fazer a respeito do que devemos ou não usar ou adquirir são:

  1. Essa escolha/decisão é compatível com um cristão?
  2. Deus será glorificado por essa escolha/decisão?

“O contraste implícito presente na descrição do vestuário e adorno das duas mulheres mencionadas em Apo 12.1 e 17.4 é difícil de interpretar. O vestido simples da mulher que representa o povo de Deus contrasta de modo marcante com os trajes muito enfeitados da prostituta espiritual, a Babilônia mística. É difícil, se não impossível, determinar em que medida o contraste reflete o modo como os cristãos se adornavam durante o período da igreja apostólica. Pode muito bem ser que a visão simplesmente não estivesse interessada nessas distinções ou que pelo menos não ilustrasse a maneira como as mulheres se vestiam ou deveriam vestir-se na vida real da igreja. Sugerimos uma possível ligação porque Pedro e Paulo recomendaram a mesma ausência de jóias de adorno para as mulheres cristãs que encontramos no caso da mulher em Apoc. 12.1”. (idem, p. 62-63)

Consideramos agora alguns destaques na exegese proposta pelo Pr. Angel Manuel Rodríguez (ex-diretor do instituto de pesquisa bíblica da Conferência Geral do Adventistas do Sétimo Dia, hoje pastor Jubilado) – Referente a I Pedro 3.1-6

“É interessante notar que nas Escrituras a condição e os pensamentos íntimos de uma pessoa se expressam por sua aparência, que inclui roupas. Esse é o caso das vestes resplandecentes na transfiguração de Jesus (Mar 9.3, Mat 17.2), da veste cheia de poder do Salvador (Mar. 5.27, 28 e 30; 6.56; Mat. 14.36) e das vestes finas dos indolentes aristocratas (Luc. 7.25). Pedro está interessado num tipo de traje que seja compatível com o espírito e os valores cristãos”. (idem, p. 68)

“Os cristãos devem tomar o devido cuidado com sua aparência, mas ela não deve estar em conflito com os valores cristãos e o objetivo de uma vida cristã”. (idem, p. 69)

Pedro apela aos cristãos para que controlem seu desejo de ostentação e luxo, para promover o princípio da simplicidade. (idem, p. 70)

Se a nossa preocupação em estarmos externamente bem apresentado diante da sociedade, encontrasse equivalência em sermos reconhecido por nossa mansidão e humildade, características indispensáveis a todo cristão em qualquer época, geografia ou classe social.

Pedro, como Paulo e Tiago rejeita “o uso de jóias como sinal de status social entre os crentes. […] há um tipo de adorno exterior que é expressão de orgulho e autoconfiança, em lugar de ser uma expressão da submissão da pessoa e sua dependência de Deus. É, portanto, lógico para o cristão rejeitar um e usar o outro. Quando contrastado com o ‘espírito manso’, o adorno exterior se torna expressão de uma atitude inquieta, símbolo de uma necessidade, até mesmo a busca da paz interior que não foi satisfeita mas deve ser plenamente suprida pelo evangelho. Daí esse adorno ser incompatível com os frutos da mensagem cristã”. (idem, p. 74)

Em suma, “os cristãos devem identificar-se com aquilo que o Senhor considera valioso”. (idem, p. 75)

Consideramos agora alguns destaques na exegese proposta pelo Pr. Angel Manuel Rodríguez – Referente a I Timóteo 2.9 e 10

“A ênfase são está necessariamente sobre o custo da roupa, mas particularmente sobre um tipo luxuoso e chamativo de vestuário, que não reflete a natureza da verdadeira beleza, compreendida pela comunidade cristã”. (idem, p. 85)

“A implicação é que o cristianismo é tão valioso e atraente que, se for posto em prática, embelezará a vida dos crentes, tornando-os pessoas honradas e respeitadas na sociedade dentro da qual vivem”. (idem, p. 86)

“O adorno que Paulo está rejeitando era geralmente associado com ostentação e impureza”. (idem, p. 87)

“É muito provável que o tipo de vestuário usado por algumas mulheres na igreja não só fosse aparatoso, mas pudesse ter trazido divisões na igreja ao estabelecer desnecessárias distinções sociais. Ao mesmo tempo, a reputação das mulheres, e portanto da igreja, estaria sendo prejudicada aos olhos daqueles que na sociedade defendiam elevados padrões morais e que associavam esse tipo de adorno a uma conduta moral questionável”. (idem, p. 87)

Paulo, assim como Pedro, parece estar muito interessado na reputação do cristianismo entre os não-cristãos e em sua influência positiva na sociedade. A esse respeito, o conselho de Paulo corresponde perfeitamente ao que Pedro tinha em mente. Mas, enquanto o conselho de Pedro estava primordialmente baseado no AT, no caso de Paulo não há referência às Escrituras enquanto ele descreve a natureza do verdadeiro adorno Cristão”. (idem, p. 87)

No que diz respeito aos comportamentos e estilo de vida cristão ele deve ser: honroso, modesto, caracterizado pela decência.

“[…] ele não rejeita o devido cuidado das mulheres com o cabelo e o uso de trajes convenientes. Mas no caso das jóias, ele não sugere ou dá a entender que algumas delas sejam modestas. Paulo simplesmente diz: ‘Não quero que as mulheres se ataviem.. com ouro e pérolas’. Ele dificilmente poderia ter sido mais específico ao rejeitar o uso de jóias como adorno pessoal”. (Idem, p. 89)

“O fato de que Paulo menciona apenas ornamentos de outro e pérolas tem sido tomado por alguns como significando que ele rejeita somente as jóias caras. De acordo com esse argumento, Paulo está interessado apenas no princípio da economia. Essa linha de raciocínio parece encontrar algum apoio no fato de que ele rejeita ‘vestuário dispendioso’ (I Tm 2.9) dando a entender que as roupas baratas são apropriadas. Essa interpretação particular, no entanto, traz para o texto uma ideia que parece não estar na mente de Paulo e que mais parece uma racionalização do que uma conclusão exegética. Baseamos essa crítica em várias considerações”. (idem, p. 89-90)

“Primeira: a expressão ‘vestuário dispendioso’ não enfatiza o valor econômico das roupas mas, como já se indicou, sua natureza chamativa e luxuosa. É nesse aspecto que Paulo coloca a verdadeira ênfase. O tipo oposto de roupa que ele está implicitamente recomendando é aquele que não é aparatoso e luxuoso; ele não recomenda um que seja luxuoso mas menos caro”. (idem, p. 90)

“Segunda: a razão mais provável pela qual o apóstolo está fazendo distinção entre diferentes tipos de vestuário é que a roupa é uma necessidade humana básica e não pode ser condenada in toto. O uso de jóias ornamentais, entretanto, não é uma necessidade humana básica que possa e deva ser satisfeita pelo uso de um tipo menos caro. Consequentemente, ele não faz nenhuma distinção implícita entre diferentes tipos de jóias. Em outras palavras, no contexto não há indicação de que Paulo esteja graduando as jóias ornamentais em termos de seu custo, a fim de determinar qual é ou não é apropriada como adorno pessoal”. (idem, p. 90)

“Terceira: No texto Paulo trata do adorno cristão apropriado, mas não abre espaço em sua discussão para o uso de jóias ornamentais econômicas. O adorno cristão é fundamentalmente interior, mas se expressa na apresentação e conduta exterior do crente. Mais uma vez, se a questão fossem as jóias ornamentais vistosas, mas econômicas. Nada existe no contexto para apoiar a ideia de que Paulo estava estimulando o uso de jóias ornamentais modestas”. (idem, p. 90)

“Quarta: Paulo menciona ouro e pérolas porque eram o tipo de jóias usadas em seus dias como adorno pessoal. Ele não inclui todos os itens que se encaixariam nessa categoria, como pedras preciosas e prata, indicando que a lista não era completa. Ele está lidando claramente com jóias ornamentais em qualquer uma de suas formas, e as formas e os materiais usados variarão de cultura para cultura”. (idem, p. 90)

“Baseados nos exemplos que Paulo dá, podemos concluir que ele rejeita o adorno que tenha o simples propósito de estabelecer distinções sociais na igreja, talvez separando os ricos dos pobres, e que seja chamativo, incompatível com o espírito de modéstia e decência. Em lugar desse tipo de adorno, ele apela para as boas obras, que são uma expressão da entrega do indivíduo a Deus. Vem implícita a ideia de que aquilo que usamos constitui uma declaração de nossos valores e do objeto de nosso verdadeiro compromisso. Para aqueles que temem ao Senhor, o adorno ostensivo deve consistir na prática de boas obras em favor de outros”. (idem, p. 91)

Resumo do Material Bíblico

“Em geral, o propósito básico da jóia é o adorno pessoal”. (idem, p. 116)

“A evidência bíblica demonstra claramente que, em geral, há uma atitude desfavorável para com as jóias nas Escrituras. Encontramos o próprio Deus pedindo que Seu povo remova os adornos de seu corpo, no contexto de um apelo para uma reconsagração ao Senhor (Êxodo 33.4-6; cf. Gen 35.2-4). Isso também é indicado pela denúncia profética contra quase todos os tipos de jóias usadas tanto por homens como por mulheres (Isa. 3.18-21)”. (idem, p. 117)

“Em Apocalipse 12.1 e 2, usa-se uma mulher como símbolo do povo de Deus, mas há uma total ausência de jóias em seu corpo. A mulher que representa os inimigos do povo de Deus, contudo, é descrita como carregada de jóias (Apoc. 17.4)”. (Idem, p. 117)

“Deve-se também aceitar  fato de que a Bíblia não considera as jóias como sendo essencialmente más. De outra forma, teria sido impossível que Deus ordenasse a Moisés que fizesse para Arão um traje adornado com jóias, ou que o rei usasse uma coroa, ou que alguém tivesse um anel como sinete. Mas todos esses caos constituem, até certo ponto, um uso apropriado de jóias. As jóias não podem ser essencialmente más porque os belos materiais usados em sua produção foram criados pelo próprio Deus. O mal das jóias se localiza no coração do usuário, e não simplesmente no objeto em si“. (idem, p. 118)

“[…] aos israelitas não recomendado nenhuma jóia religiosa através da qual pudessem expressar suas convicções religiosas e seu compromisso com o Senhor. Este não é um argumento baseado no silêncio do registro bíblico. O Senhor, como já demonstramos, disse aos israelitas o que usar a fim de informar aos outros que eles adoravam a Ele somente, e a nenhum outro deus. Requereu deles um acessório particular símbolico em seu vestuário, mas não eram jóias. Esse símbolo indicava que eram santos ao Senhor (Núm. 15.37-41). De acordo com o Novo Testamento, essa vida santa deveria adornar o cristão (I Ped 3.4 e 5). (Idem, p. 118)

“O uso de jóias como símbolo de status social, poder e autoridade se restringe a poucos casos apenas. Aqui podemos mencionar as vestes do sumo sacerdote, as jóias do rei e da rainha, e o anel como sinete. Desses, somente o primeiro foi explicitamente instituído pelo próprio Deus e os outros parecem ter sido permitidos ou tolerados por Ele. Nesses casos, o elemento de adorno desempenha um papel secundário. Quando outras pessoas além do casal real usavam jóias para estabelecer distinções sociais, os profetas erguiam a voz contra elas (Isa. 3.18-21; itm 2.9 e 10; I Ped. 3.3-6), indicando que esse tipo de jóia não era totalmente aceitável. Mas essas exceções servem para mostrar que, pelo menos em alguns casos, eram aceitas as jóias funcionais”. (idem, p. 118-119)

Fundamento Para a Norma adventista

A quem possa imaginar que tal postura restritiva no que diz respeito a modéstia cristã seja um cuidado apenas do cristianismo recente, mas na realidade só no terceiro século é que se pode começar a detectar uma leve tendência ao relaxamento quanto à norma sobre as jóias. Mas no discurso de João Crisóstomos (347 – 407 d.C.) vemos que tal condição nunca foi plenamente ignorada. “Ele considerava os ornamentos de ouro desnecessários para homens e mulheres. Com efeito, era ridículo, dizia ele, que uma mulher fosse à igreja usando sus adornos de ouro: ‘Qual é a razão possível para que ela entre aqui usando ornamentos de ouro, ela que deveria entrar para ouvir [o preceito] ‘que mulheres se ataviem com modéstia, … não com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendiosos’ (I Tm 2.9)? Com que objetivo, então, ó mulher, entras aqui? Seria na verdade para lutar com Paulo e mostrar que, mesmo que ele repetisse essas coisas dez milhares de vezes, não as considerarias? Ou seria um desejo de envergonhar teus mestres, que discursariam sobre esses assuntos em vão?’ Crisóstomo conclui essa seção com um apelo muito específico: ‘Que a imagem de Deus não seja adornada com estas coisas: que a mulher se adorne com gentileza, e a gentileza é ausência de orgulho e de jactanciosa ostentação”. (idem, p. 121-122)

“Os primeiros séculos são marcados por forte resistência ao uso de jóias ornamentais pelos crentes. Após o quinto século, como indicou Bacchiocchi, as jóias se tornaram o adorno oficial das ordens clericais, e muito populares entre os cristãos durante o restante da Idade Média. Os Reformadores condenaram essa prática da igreja e chamaram os cristãos de volta a uma vida de simplicidade, desestimulando o uso de jóias para o adorno pessoal. Esse era particularmente o caso entre os anabatistas, que procuraram reformar a igreja não só em termos de doutrinas, mas também quanto a um estilo de vida bíblico. essa tradição foi continuada entre os menonitas, os Irmãos e metodistas, entre outros”. (idem, p. 122)

“Os adventistas são herdeiros dessa compreensão genuinamente bíblica dos primeiros católicos e dos protestantes a respeito do adorno pessoal. A história indica uma tendência recorrente entre aqueles que têm defendido uma elevada norma bíblica sobre jóias ornamentais, no sentido de relaxar a norma até que se torne virtualmente inexistente. Talvez o motivo seja que a sua base bíblica é esquecida ou considerada irrelevante. Esse é o tipo de pressão que a Igreja Adventista enfrenta hoje”. (idem, p. 123)

Implicações para a Igreja e Perigos Potenciais

“Aqueles que crêem que a Bíblia é sua norma de fé e prática estão dispostos a perguntar como os ensinos bíblicos sobre o uso de jóias afetam sua vida cristã. Reconhecemos que é um assunto delicado guiar as pessoas no tocante ao que usar ou não usar, mas o fundamental neste caso é a questão da autoridade da Bíblia em nossa vida. Os adventistas sempre alegaram estar dispostos a ouvir e submeter-se à vontade de Deus expressa nas Escrituras, e por essa razão deveríamos sentir-nos livres para explorar as implicações do ensino bíblico sobre jóias para nós hoje”. (idem, p. 124)

😬🫣😶‍🌫️ “Qual é o propósito particular desta peça de joalheria em nossa própria cultura? Se formos incapazes de encontrar um propósito, então ela é provavelmente um adorno”. (idem, p. 125)

O princípio dominante seja qualquer ação, atitude ou símbolo que introduza a distinções sociais desnecessárias entre os crentes deva ser cuidadosamente avaliado e, sempre que possível, deposto aos pés da cruz, onde todos somos igualmente pecadores e carentes da graça. A ênfase deve ser colocada sobre aquilo que une – não sobre aquilo que separa. (idem, p. 128)

“A igreja não deve apresentar uma lista daquilo que é apropriado ou não, mas dar orientação geral e permitir que os membros, sob a guia do Espírito, apliquem os princípios a cada prática cultural específica. Devemos reconhecer que existem áreas na vida cristã em que a própria pessoa e seu Senhor devem decidir o que fazer. Isso é, com efeito, sinal de maturidade cristã e espiritual. É possível e até provável que alguns usem mal a sua liberdade, mas esse argumento não deve ser empregado para negar a liberdade que nos é garantida pela própria Bíblia”. (idem, p. 128)

Outro cuidado que precisamos ter é com o legalismo que: “distorce a obediência, criando uma monstruosidade religiosa que destrói a própria essência da mensagem cristã da salvação exclusivamente em Cristo, e nesse processo cria no indivíduo uma sensação de orgulho. […] O legalismo vem sempre acompanhado por uma atitude julgadora. […] o engano do coração humano que às vezes toma aquilo que é bom – a obediência a Deus – e o transforma num meio de conquistas pessoais e orgulho. Necessita-se de uma consciência do fato de que a genuína obediência é uma expressão humilde de gratidão para com Deus e nosso Salvador, por aquilo que fizeram por nós na cruz. Nossa obediência é uma oferta de amor a Deus, e Ele não espera que comparemos aquilo que Lhe trazemos com o que outros seres humanos estão trazendo a Ele. Sempre que tentarmos auxiliar os outros em sua experiência cristã, devemos fazê-lo com amor e não com espírito de condenação e rejeição”. (idem, p. 130-131)

Se você chegou até aqui, quer dizer que você está levando o assunto muito a sério, e por isso sairá da superfície o problema e poderá agora considerar o aspecto mais preocupante por trás de toda essa advertência bíblica. “[…] por vezes, a igreja tenha involuntariamente se inclinado a sublinhar sua aplicabilidade apenas à área do vestuário e adorno. […] Ninguém deveria esperar que a igreja decidisse por seus membros o que é um carro modesto e econômico, uma casa modesta ou um relógio simples. Essas são área nas quais a igreja deve apenas ensinar os princípios cristãos e desafias seus membros a usá-los na tomada de decisões pessoais na sua vida diária. A pergunta óbvia: Por que não podemos fazer o mesmo quando se trata da norma sobre jóias ornamentais? A resposta é simples: A própria Bíblia estabeleceu para isso uma norma particular e, portanto, a igreja pode e deve ensiná-la. Naquelas áreas em que a Escritura fala claramente, não temos escolha a não ser atentar para ela. A aplicação dos princípios que governam a norma acerca das jóias e outras áreas deve ser deixada para a atuação do Espírito no coração daqueles que alegam viver uma vida agradável ao Senhor”. (idem, p. 131)

Ao nos aproximar do final deste fichamento, reconsideremos o que já foi destacado no inicio: “Não se deve permitir que o assunto das jóias distraia nossa atenção das boas-novas da salvação pela fé em Cristo. É dentro do contexto do evangelho que devemos ensinar a norma bíblica sobre as jóais, devemos deixar claro que a jóia ornamental é rejeitada, mas a funcional não. Fazer distinção entre ambas pode parecer às vezes um pouco difícil, mas não precisa ser difícil. A jóia funcional é facilmente identificada na maioria das culturas e, portanto, devemos permitir que as práticas culturais nos tragam essa informação. Em outras palavras, a jóia funcional não é definida por desejos pessoais mas por respeitadas crenças e práticas culturas. Por exemplo: a igreja deve estar disposta a reconhecer que, em algumas culturas, um colar serve para indicar que a mulher que o usa é casada; em outras culturas, o colar é um simples adorno. Na primeira situação, o colar é aceitável, mas na outra deve ser rejeitado. Na seleção de jóias funcionais, o cristão deve seguir os princípios bíblicos de modéstia, simplicidade e economia”. (idem, p. 132)

“Essa abordagem da questão das jóias se baseia no fato de que a Bíblia combina uma norma específica sobre jóias (rejeição de jóias ornamentais e uso restritivo de jóias funcionais) com um conjunto de princípios a serem usados na seleção de jóias funcionais. Para que a igreja permaneça fiel ao testemunho das Escrituras, deve ensinar ambos os elementos”. (idem, p. 132-133)

Considerações Finais

“A sociedade nos condicionou a crer que nosso valor pessoal depende de coisas como títulos acadêmicos, riqueza, o tipo de carro que dirigimos, a casa e o local onde moramos e nossa aparência pessoal. A norma bíblica sobre as jóias é uma acusação contra uma sociedade que nos escraviza, destruindo nosso valor próprio a fim de tentar cultivá-lo adicionando à nossa vida coisas externas e supérfluas. Pareceria que, para a sobrevivência de sistemas econômicos mundiais, seria necessário que primeiro eles diminuíssem nossa auto-imagem e depois nos convencessem a crer que, para sermos atraentes, influentes e poderosos, precisaríamos comprar o que eles nos oferecem. A Bíblia deseja que rompamos com esse poder social e econômico escravizador”. (idem, p. 135-136)

“A Bíblia reafirma nosso valor próprio com base na criação e redenção. Deus nos criou à Sua imagem e não associou esse valor intrínseco a jóias ornamentais exteriores (Gên 3.21). Cristo, tampouco, espera que nos embelezemos a fim de termos valor para Ele. Somos ricos nEle, mas essa é a riqueza e o valor de uma existência vivida em comunhão com Ele. Se há um tempo em que a norma bíblica sobre as jóias deve ser defendida, é agora. A opressão social é sempre maligna, mas tendemos a passar por alto algumas de suas mais óbvias expressões. Consequentemente, temos a tendência de nos submetermos humildemente a elas e, nesse processo, nossa dignidade se reduz. Nossa norma acerca das jóias é uma rebelião contra essa exigência social penetrnte e uma reafirmação de nosso valor em Cristo”. (idem, p. 136)

“A humildade não deve ser entendida como significando que não se deve dar atenção a nossa aparência exterior. Lembre-se de que a Bíblia não condena todas as formas de adorno exterior, mas qualifica-o como simples, modesto e econômico”. (idem, p. 137)

“Os adventistas têm insistido no fato de que Cristo é Senhor de nosso tempo, espaço, intelecto, recursos e corpo. […] Nossos valores se expressam pelo modo como adornamos nosso corpo, contando aos outros o que tem importância fundamental em nossa vida. Não podemos ser permanentemente leais a nós mesmos se aquilo que fazemos e o modo como nos apresentamos não estão de acordo com nossos valores e convicções íntimas. Quando nos olhamos no espelho, a ausência de jóias de adorno deve nos lembrar que Cristo é na verdade o Senhor de nossa vida. Mas também deve nos lembrar que Ele deseja que demonstremos a Sua soberania em nossa vida diária, incorporando os princípios de simplicidade, modéstia e economia em tudo o que fazemos”. (idem, p. 139)

Fato é que “há muita coisa em jogo, para que a igreja negligencie ou rejeite a expressão da vontade de Deus para Seu povo nessa área. Necessita-se de uma compreensão clara por parte de pastores, professores e líderes da igreja a respeito dessa norma, a fim de torná-la relevante para os membros da igreja ao redor do mundo”. (idem, p. 140)

Por tudo isso “uma responsabilidade particular repousa sobre os ombros daqueles que trabalham com os jovens, ao transmitirem para a nova geração uma norma que via contra a índole da sociedade. Talvez seja esse o tipo de desafio que nossos jovens precisam: um chamado para denunciar a sociedade numa área que afeta sua autoimagem de modo muito direto. Nessa tarefa, a igreja inteira deve proporcionar apoio moral, vivendo a norma bíblica acercar das jóais”. (idem, p. 140)

Não estou seguro que este meu último destaque impactará você como impactou a mim, mas optei por não ocultá-la de você apesar da dúvida: “O Deus de Israel não usa jóias”. (idem, p. 117)

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No mais, sigamos vivendo tão somente para honra e glória de Deus,

Que o amor por Cristo seja nossa motivação!

Fonte:

RODRÍGUEZ, Angel Manuel. O uso de jóias na Bíblia. São Paulo: CPB, 2002

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