Temo profundamente o crescente aumento de diagnósticos depressivos entre pessoas cristãs. Como pastor, estou consciente de que mesmo os mais fiéis a Deus não estão imunes a desafios e momentos difíceis. A Bíblia, inclusive, apresenta casos de profetas que viveram sofrimentos intensos. No entanto, devemos nos conformar com o fato de que, a cada dia, mais indivíduos, inclusive no âmbito cristão, são diagnosticados com depressão ou ansiedade em níveis que requerem intervenção medicamentosa?
“A vida saudável paira sobre nós como ideal supremo. Queremos ser felizes, e para isso, é necessário ter saúde. Mas o que é saúde? Saúde, por milênios, foi entendida como equilíbrio, harmonia. Seu oposto, desequilíbrio, seria a doença. Com a devastação da II Guerra Mundial, a OMS (Organização Mundial de Saúde) ampliou o conceito de saúde para um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente ausência de uma doença ou enfermidade. Esta mudança conceitual implicou em outras mudanças na prática da medicina. Se a saúde é um estado completo de bem-estar, em tese, qualquer mal-estar pode ser tratado pela medicina”1.
Quando falamos de saúde mental segundo o dicionário médico (DSM-5), ele explica e classifica como “transtorno” grande parte do mal-estar que experimentamos em nossos dias; nossos comportamentos e sentimentos estão ali de alguma forma catalogados. Estamos progressivamente transformando em patologias os problemas naturais do dia a dia?“2.
No caso dos cristãos, deveríamos tentar acompanhar o mundo em sua velocidade frenética? Deveríamos esperar da ciência a última palavra sobre nossos males emocionais? Essas questões não são levantadas afim de convidar os cristãos do século XXI a viverem como se estivessem no período medieval. Muito menos é meu intuito demonizar a indústria farmacêutica ou o uso dos medicamentos, mas penso que não deveríamos nos conformar com a medicalização da vida.
Estudos sérios comprovam que aspectos biológicos favorecem um quadro depressivo, mas essa não é a razão da maioria dos casos. A causa maior parece residir na maneira como vivemos. Por exemplo:
- Ficar sozinho favorece um quadro depressivo.
- Não ter nenhum controle sobre o que precisa ser feito em seu trabalho, e ter que fazer apenas o que mandam, também favorece um quadro depressivo.
- O excesso de conforto ou a ideia desequilibrada de que o conforto vivido por outra pessoa também lhe seja um direito, também parece contribuir para um nível de ansiedade prejudicial à saúde.
- A intemperança na conexão com as mídias sociais roubando o tempo da vivência no mundo real, parece ser um caminho pavimentado e bem sinalizado para se tornar depressivo.
Outra realidade amplamente reconhecida é que o ser humano não tem apenas necessidades físicas, nós também temos necessidades emocionais profundas. A ânsia por nos sentir aceitos, a busca por dar significado às escolhas que fazemos na vida, e a necessidade de nos sentirmos valorizados são elementos intrínsecos à nossa existência.
Enquanto muitos aspectos da vida moderna avançaram, é inegável que algumas áreas estão se deteriorando. Importante notar que, nesse contexto, o consumo de remédios por si só não é a solução para mudar essa situação. A verdadeira transformação reside na revisão da maneira como vivemos e na reavaliação dos valores fundamentais que guiam nossas escolhas diárias. Do contrario seguiremos com o que já fora previsto na Bíblia: “Portanto, comerão os frutos amargos de seu estilo de vida […].” (Provérbios 1:31 NVT)
Isso posto é importante lembrar que: Se você está ansioso, depressivo, você não é fraco, louco ou uma máquina defeituosa, você é um ser humano com necessidades não atendidas. Se alguém está nesta condição, o que ela mais necessita é de apoio humano e segurança para poder contar com alguém.
Enquanto nossa sociedade continuar falando mais em desequilíbrio químico-biológico ao invés de desequilíbrio na forma como vivemos, a condição de quem é depressivo ou ansioso tenderá a se agravar ainda mais. É hora de mudar a forma como estamos vivendo e não apenas a receita médica para se ter uma melhor qualidade de vida.
Os remédios têm o seu lugar na melhoria de um quadro clínico de deficiência emocional, mas dificilmente serão o fator determinante para uma mudança de vida.
E já que estamos ponderando sobre o uso de remédios, existe um sobre o qual precisa também ser usado sem restrição ou contraindicação por quem lida com pessoas depressivas ou ansiosas: a confiança em Deus por meio da prática da oração. Não podemos desistir de orar por aqueles que sofrem, seja de que natureza for, até que a condição da pessoa seja mudada. Cristo deixou esse ensino por meio da parábola conhecida como: “A Parábola da Viúva Persistente” (Lucas 18.1-8).
Antes de sugerir a um depressivo a buscar uma receita farmacêutica, precisamos tentar ajudá-lo a encontrar a resposta à seguinte pergunta: “O que me deprime?”
Estudos apontam que somos a sociedade mais solitária na história da humanidade. Pesquisas indicam que 39% das pessoas não se sentem próximas a ninguém.
Por que existimos? Por que estamos aqui? São perguntas que todos precisamos ter as respostas bem claras em nossa mente.
Ao que tudo indica, o colapso que testemunhamos no mundo ocidental não é visto, por exemplo, na Savana Africana. Qual a razão para essa diferença, já que eles não têm o conforto existente no mundo ocidental? Eles não são mais rápidos, nem maiores do que os animais que caçam, mas são muito melhores em grupo e cooperação. E essas duas características parecem ser um fator bem significativo da distinção entre eles e nós do mundo ocidental, os primeiros seres humanos a abrir mão deste poder. E isso está nos fazendo muito mal, e não precisa ser assim, ainda é possível reverter esse diagnóstico.
Estamos mais solitários, nos alimentamos mal, e essa é uma combinação que não irá gerar saúde, com toda certeza. Uma série de princípios inadequados assumiram nossas mentes, deixando-nos doentes em vários aspectos. Eis um deles, há milhares de anos, filósofos disseram: “Se achar que a vida é só dinheiro, status e ostentação, você vai se sentir um lixo”3. Após 30 anos de pesquisa, Tim Kasser concluiu que:
- Quanto mais você acredita que consumir e ostentar afasta a tristeza e melhora a vida, maior a probabilidade de se tornar deprimido e ansioso.
- Como sociedade, nos tornamos muito suscetíveis a essas crenças popularizadas pelo marketing. Fomos treinados a procurar a felicidade nos lugares errados, como Fast Food que não nutre o corpo, e valores fajutos que não suprem a alma.
Quem é consciente da possibilidade da morte sabe que não pode valorizar o que será ignorado no último dia de vida.
Vivemos em dias tão tenebrosos que o que é importante na vida deve ser negligenciado. E para reverter esse quadro crescente de epidemia referente aos problemas emocionais, é imperativo promover mudanças em nossa sociedade, priorizando valores genuínos, conexões humanas e um estilo de vida que respeite as necessidades emocionais fundamentais de cada indivíduo. Isso requer uma abordagem mais ampla, que vai além de soluções medicamentosas, e envolve a transformação de padrões culturais que contribuem para o mal-estar emocional.
Convido você a mergulhar na profundidade da sua própria experiência e a questionar as definições convencionais de depressão e ansiedade. Será que não é hora de explorarmos uma compreensão mais holística, que não rotule o depressivo como menos capaz, mas sim como alguém cujo ser clama por equilíbrio?
Acredito firmemente que a depressão não é apenas um sinal de fraqueza, mas sim um indicativo de desalinhamento. Antes de recorrer a mudanças na medicação, imagine se cada um de nós pudesse responder a duas perguntas fundamentais:
- Qual foi o momento mais significativo da sua vida?
- O que verdadeiramente lhe entristece, tira suas forças?
Estas indagações podem ser o ponto de partida para uma jornada de autoconhecimento, que transcende o simples tratamento sintomático. Estamos prontos para redefinir nossa narrativa em torno da saúde mental e colher os frutos desta mudança?
ATENÇÃO: Se você tem um histórico de depressão severa ou pensamentos suicidas, minha recomendação é que você procure um profissional adequado seja um Psicólogo ou Psiquiatra e de preferência cristão. E siga com as prescrições inclusive medicamentosa se recomendado, afinal ou mal não está no medicamento em si. Caso ainda não esteja em tratamento, procure o mais rápido possível.
Caso queira conversar um pouco mais sobre o tema, é só entrar em contato @ReynanMatos
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No mais, sigamos vivendo tão somente para honra e glória de Deus,
Que o amor por Cristo seja nossa motivação!
Fonte:
1. Mario Eduardo Costa Pereira. O que é transtorno mental?
2. Idem
3. Johann Hari. This could be why you’re depressed or anxious