Que a maioria das pessoas perde muito tempo conectada nas redes sociais é fato. Afinal, a necessidade de estar constantemente por dentro dos últimos acontecimentos é grande. É praticamente uma relação de dependência. Uma simples “olhadinha” pode ser sinônimo de horas despercebidas com os olhos vidrados na tela. A responsável por tudo isso? Uma substância chamada dopamina, conhecida como “hormônio da felicidade”.
A dopamina é, na verdade, o neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar e recompensa. Também conhecida como substância do prazer, o cérebro não percebe quando ela é liberada, o que faz com que esteja sempre em busca do que causa essa sensação. Por isso, cada vez que a substância entra em ação, mais o cérebro vai atrás dela. O efeito é quase como uma droga, pois gera uma onda de estímulos no corpo. Isso explica o motivo pelo qual quanto mais a pessoa posta, mais tem necessidade de continuar conectada, pois o sentimento de aprovação também traz esse bem-estar, criando um ciclo vicioso.
Gatilho para a ansiedade
Por outro lado, quando curtidas e comentários não acontecem, pode ter certeza de que o sentimento de ansiedade vem. Pois mesmo sem a recompensa o cérebro libera a dopamina só de imaginá-la. Com isso a ansiedade entra em cena, pois foi gerada uma expectativa. E não importa o quanto de interação gerou o post, esse número nunca será suficiente. Outro fator que também pode gerar ansiedade em quem desce o feed ou acompanha os stories é a vida “perfeita” que supostamente é mostrada. A verdade é que o mundo virtual está muito longe da vida real, pois é comprovado que 60% do seu conteúdo é maquiado. Só que mesmo sabendo que esse conteúdo pode não ser legítimo, metade dos usuários das redes sociais tem inveja das experiências alheias. Consequentemente, ficam se comparando e diminuindo, e isso causa um dano emocional muito negativo.
A social media Thays Knight aprendeu a duras penas a carga mental que as redes sociais podem trazer se não forem usadas com sabedoria. Durante toda a infância e adolescência já apresentava sintomas de ansiedade com os acontecimentos corriqueiros da vida, mas achava que não era nada demais. Com a chegada da vida adulta, as coisas começaram a ficar mais sérias e tudo piorou quando ela resolveu empreender na internet com info-produtos (cursos digitais).
“Eu amava meu trabalho, mas a obrigação de estar sempre criando conteúdo e novos cursos nas redes sociais acabava com minha saúde mental. O sentimento de comparação com outros produtores era inevitável. Por mais que o lançamento do curso tivesse sido incrível, eu sempre achava que na próxima vez precisava vender mais, e vivia insatisfeita com meus resultados.”
Felizmente, Thays percebeu a tempo que havia algo errado com ela. Depois de três anos, a carioca fechou o negócio e conseguiu um trabalho fixo com marheting digital numa empresa americana. “Hoje posso dizer sem medo de errar que as redes sociais são, sim, tóxicas, e que até mesmo seu maior sonho pode virar o pior pesadelo, se você não se cuidar.”
O vício da dopamina
Essa comparação parece quase uma unanimidade entre os usuários das redes. Knight se comparava com outros produtores digitais, mas há quem se compare com o corpo, a roupa, a vida de outras pessoas. É claro que se inspirar nos outros é sempre interessante, mas, quando se trata de pessoas virtuais, devemos ter cuidado. Você não conhece aquele personagem, nem mesmo sabe se ele é real. É preciso ter consciência de que as redes sociais são apenas um pequeno recorte da vida. O problema é que o efeito viciante da dopamina faz com que a pessoa esteja cada vez mais conectada e não fique satisfeita com a recompensa obtida em outras atividades saudáveis, como atividade física, por exemplo. O cérebro começa a pedir doses maiores e cada vez mais frequentes para garantir a sensação de prazer. Então a ação da dopamina funciona praticamente como uma droga no cérebro, pois dispara rapidamente o sistema de recompensa. Aliás, a recompensa que a dopamina libera facilmente nas redes sociais é a maior causadora do imediatismo que exigimos em nossa vida diária. Não temos mais paciência para nada, queremos tudo rapidamente e começamos a ter dificuldade para lidar com frustrações. Não temos mais disponibilidade para esperar e tudo precisa ser resolvido na hora. A assistente de marketing Natália Menezes começou a perceber esses sintomas em sua rotina. Durante uma festa familiar, ela teve uma crise grave de ansiedade e, depois disso, percebeu que as redes sociais despertavam nela o gatilho do imediatismo, o que piorava ainda mais a situação. “Acredito que o que complica é quando fazemos esse movimento repetitivo, quando a gente sai de um perfil e vai para outro em segundos e, com isso, ficamos nesse ritmo acelerado. Comecei a perceber que isso me deixava ainda mais ansiosa, principalmente quando não estava nesse ritmo durante minha rotina. Isso diminuía minha paciência para esperar as coisas acontecerem naturalmente.”
O efeito viciante da dopamina faz com que a pessoa esteja cada vez mais conectada e não fique satisfeita com a recompensa obtida em outras atividades saudáveis, como atividade física, por exemplo.
Esse hábito de perder a noção do tempo rolando a tela do celular é um dos principais desafios a ser combatido na guerra contra o mau uso das redes sociais.
Prioridades
O que ajuda muito a minimizar esses efeitos é estabelecer limites para o uso das redes. Escolher bem quem você vai manter no seu feed faz toda a diferença. Desativar as notificações também é uma boa ideia, pois o impede de sair correndo para conferir qual o último post do momento. Também é indispensável ter uma meta de uso diária. Estabeleça horário e tempo definidos para o uso das redes, cuidando para não ultrapassar o limite estipulado.
“Hoje eu diminuí bastante o uso das redes sociais. Se eu ficar uns dias sem entrar não sinto tanta falta; é uma relação menos tóxica. Quando chego em casa procuro me concentrar no que preciso fazer primeiro, e não mexo no celular para não me atrapalhar.” Essas pequenas mudanças que Natália fez são os primeiros passos de quem não quer ser engolido pelas redes sociais. Se você permite que isso aconteça, corre sério risco de ficar doente e sua saúde mental deve ser tratada como prioridade. É muito importante usar as redes de forma saudável. Para isso, dê preferência a páginas e perfis com conteúdos edificantes e que agreguem valor.
A assistente de coordenação pedagógica Andara Correia aprendeu isso da pior forma. Ela foi uma das vítimas do acidente com o desmoronamento dos cânions de Capitólio, em Minas Gerais. E foi exatamente no dia da tragédia que percebeu o primeiro quadro de ansiedade, o que a levou a buscar ajuda profissional. Com isso, ela descobriu formas de se monitorar e entender os gatilhos que a levam às crises e como controlá-las.
Foi com esse olhar atento que Andara percebeu que o conteúdo a que tinha acesso nas redes sociais era, em sua maioria, de natureza negativa. “Eu sempre via notícias sobre tragédias, atentados, massacres em escolas, pessoas necessitadas, etc. Percebi que ficava muito tempo nas redes consumindo esse conteúdo e isso começou a me fazer muito mal.” A gestora parou de seguir alguns canais e perfis porque percebeu que o conteúdo funcionava como gatilho e despertava as crises. Com isso, felizmente, o algoritmo diminuiu drasticamente a entrega desse material.
“O problema é que me interesso pelas notícias, mas o fato é que nos últimos tempos é só tragédia, dor e sofrimento ao nosso redor. E eu sou sensível a esse conteúdo, pois me importo muito com a dor do outro. É tudo automático. Se eu não vigiar só vou rolando e rolando… Quando percebo já estou vendo coisa que me entristece”, conclui.
Todo excesso faz mal
Esse hábito de perder a noção do tempo rolando a tela do celular é um dos principais desafios a ser combatido na guerra contra o mau uso das redes sociais. “Funciona como um vício. São pequenas doses de dopamina enquanto estamos conectados. Isso porque o efeito do neurotransmissor é passageiro e a sensação de bem-estar é tão rápida que a pessoa quer suprir essa falta cada vez mais vivendo, praticamente, em outra dimensão”, afirma o psicanalista Elias Sousa.
Para o especialista, a fim de eliminar o efeito da dopamina é fundamental entender que tudo em excesso é prejudicial para a nossa saúde. Ter disciplina e estabelecer limites é muito importante. “Uma ideia é diminuir o uso das redes gradativamente. Por exemplo, se costuma ficar quatro horas conectado, coloque a meta de ficar somente três e assim por diante. Substitua também as redes sociais por outras atividades, como leitura, passeios ou conversas presenciais com amigos“, sugere.
Para minimizar os efeitos da ansiedade, Sousa recomenda a respiração diafragmática. O exercício consiste em puxar o ar pelo nariz por quatro segundos, segurar por dois segundos e soltar pela boca por quatro segundos. “No entanto, a pessoa precisa reconhecer o problema. E, claro, procurar ajuda terapêutica. Seja um psicólogo, psicanalista, ou alguma terapia alternativa que seja eficaz para essa dificuldade”, recomenda o especialista.
Com exceção dos grifos, o texto acima foi originalmente publicado por Loriza Ketlle na Revista vida e saúde OUT/2023, p. 22-24
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